Só o fato de saber que Paul McCartney vai tocar já é o suficiente para eu querer assitir. Mesmo sendo o show que já vi outras vezes, vale o esforço. O cara é uma lenda viva da música universal, está com a voz em cima, tem uma banda excelente, um repertório impecável e consegue fazer um show de quase 3 horas sem que ninguém sinta cansaço.
Paul representa hoje o legado dos Beatles. Em seu show, ele passa pela sua carreira solo, bem como por sucessos do quarteto de Liverpool, além de fazer homenagens tocantes a seus parceiros John Lennon e George Harrison. Ringo Starr, o outro membro vivo, está mais sossegado, gravando pouco, tocando com uma banda de músicos amigos, sem maiores pretensões. Sim, Paul é o cara que simboliza a beatlemania hoje. E isso mexe com meu emocional. Gosto dos Beatles há 40 anos e acho que não vou enjoar nunca. Tolero que falem mal deles, finjo que não ouço, engulo seco, consigo enxergar seus poucos defeitos e mesmo assim, não vejo nenhum grupo que possa sequer chegar perto de tudo o que eles representam.
Certamente que, para mim, há um sacrifício quando saio para um show. Deixo aqui minha esposa e meu filho, que precisam de mim diariamente, por motivos que todos sabem, deixo meu trabalho e meus afazeres para me deslocar centenas ou milhares de quilômetros para ver o que para alguns é apenas uma apresentação musical. E ainda faço um gasto considerável em tempos bicudos. Eu sei que muitos me criticam e nem entendem o motivo de tal ato. E os compreendo. Só que sei muito bem o que faço e não comprometeria minha vida por um show. Há equilíbrio sim, permeado por um tanto de loucura e impulsividade.
Outro fator que me estimula demais a ir a um show desses é estar junto a meus iguais, a meus pares. Gente que sai do Rio Grande do Sul, Bahia e Brasília, gente que acaba de torcer um pé e vai mesmo engessado, gente que vende sua melhor guitarra para poder comprar um ingresso melhor, gente que tem que pedir de joelhos ao chefe para poder ir, gente que pede dinheiro emprestado para pagar as passagens de ônibus, gente que vai de carona do Paraná ao Rio, gente que trabalha feito louco durante um mês para conseguir matar dois dias de serviço, gente que leva o filho pela primeira vez a um show, gente que atravessa o Atlântico para estar lá, gente que vence o medo de andar de avião, gente que manda fazer um boneco de Olinda com a cara de Macca, gente que faz festa de aniversário para ele todos os anos, gente que economiza tudo para poder ver um 'soundcheck' e comer um almoço vegetariano, gente que já teve a honra de apertar a mão de Paul e Ringo, gente que enfrenta as barreiras de se deslocar em sua cadeira de rodas, gente que guarda cada centavo para poder gravar uma música em Abbey Road, gente com tatuagem dos Beatles pelo corpo, gente que chega de viagens longas e cansativas ao exterior e embarca direto para não perder o show, gente que deixa marido e filho pequeno em casa, gente que está lá apenas em espírito, pois não pôde ir pelos mais variados motivos. Enfim, gente que, como eu, não mede esforços para ver o maior músico vivo do mundo tocar sua música. Que quer estar no meio dessa massa uniforme e pacífica que vibra a cada acorde, que se enche de emoção com cada verso que ele declama.
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